quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Tim Maia - Nelson Motta


Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia


Nelson Motta é conhecido por ser um dos mais famosos admiradores e entendidos de música nesse país. Foi por muito tempo foi produtor musical e revelou alguns cantores para o cenário da música brasileira. Entre eles, está Tim Maia. Que além disso, era amigo íntimo de Motta.
Nelson Motta usou de toda essa amizade, e também de seu ofício de jornalista para escrever a biografia de Tião Marmiteiro, o Tim Maia.
Tim Maia é conhecido por sua irreverência, seu caráter anárquico por todos. E claro, uma voz inigualável. Porém, além disso, tem muito mais...
Eu ganhei esse livro em Julho do ano passado como presente de namorada. Além do livro ser marcante a mim por isso, também o é pelo modo como é apresentada a história que realmente deveria virar livro. Tim Maia é uma figura sem igual. É uma criatura que você encontra características de pessoas figuras que você conhece, mas não todas essas numa única pessoa. E o livro explora muito bem isso, todas as suas frases de efeito, suas bagunças desde menino, indo aos EUA e depois como famoso mesmo, suas loucuras em rodadas de drogas, seus apelidos para os amigos e as coisas, seus atrasos aos shows, suas relações com mulheres, sua fase Racional....TUDO!
Sem fugir da música e da vida, Motta conta uma história de anos e anos de um jeito tão divertido, tão animado, tão gostoso que você lê o livro em pouco tempo e ainda pede mais. Parece conversa de bar, a leitura é deliciosa. Não deixa de ser uma biografia, relatando toda a vida pessoal e profissional do monstro do soul brasileiro, mas não deixa de ser irreverente, hilária e divertida como uma biografia de Tim Maia tem que ser.
Acredito que se Tim Maia pudesse ler esse livro, iria aprovar. Ia xingar bastante o ''Seu Nelsomota'', mas iria aprovar. Está bem ao seu estilo.

Não vou ficar aqui falando mais e mais do livro, que temo em contar a história, que é preciosa e não quero estragar a leitura de ninguém. O livro é ótimo, é de uma leitura envolvente, revela quem realmente foi Tim Maia, como foi sua vida perturbada e intensa, sem censura, sem fazer média com ninguém, bem ao "método Maia".

Genki Dama recomenda. Mãos à obra e leiam essa biograf-comédia de uma lenda viva (sim, sempre vivo!) da música brasileira!
VIVA TIM!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A Cartomante

Hoje fiquei pensando no que colocar aqui. Me vieram algumas coisa na cabeça. Mas embora eu esteja com vontade de escrever hoje, carrego uma preguiça enorme que me impede.
Para não deixar isso aqui sem nada e às moscas, decidi lançar um conto do grandioso Machado de Assis, que li faz pouco tempo e que adorei. Se trata do já famoso "A Cartomante".
Sem mais delongas, até porque eu estou mais lerdo que uma lesma, e vamos a ele.


A Cartomante (Machado de Assis)

Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.

— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...

— Errou! Interrompeu Camilo, rindo.

— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...

Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...

— Qual saber! tive muita cautela, ao entrar na casa.

— Onde é a casa?

— Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.

Camilo riu outra vez:

— Tu crês deveras nessas coisas? perguntou-lhe.

Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.

Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se, Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.

Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.

Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.

— É o senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.

Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vente e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.

Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.

Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.

Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.

Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.

Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.

Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.

— Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...

Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.

No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera.

— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel.

Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a idéia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.

Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas; ou então, — o que era ainda peior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela. "Vem já, já à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas, assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a idéa, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote largo.

— Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim...

Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.

Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar a primeira travessa, e ir por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a idéia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens, safando a carroça:

— Anda! agora! empurra! vá! vá!

Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: "Vem já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia..." Que perdia ele, se...?

Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve idéia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para os telhados do fundo. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.

A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:

— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...

Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.

— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...

— A mim e a ela, explicou vivamente ele.

A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.

— As cartas dizem-me...

Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.

— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.

Esta levantou-se, rindo.

— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...

E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.

— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?

— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.

Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.

— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...

A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.

Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.

— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.

E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa; parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.

A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.

Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.

— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?

Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Pequena Miss Sunshine


> Sinopse: Uma família desajustada viaja do Novo México para a Califórnia em uma kombi enferrujada para que a pequena Olive, de 7 anos, possa participar de um concurso de beleza de pré-adolescentes. Essa jornada tragicômica de três dias, repleta de surpresas alucinadas que levam à grande estréia de Olive, mudará toda essa família para sempre.


Tempos e mais tempos afastado, eis que eu volto...
Sim, eu não morri! Feliz 2009 para quem (se é que existe) é leitor do Genki Dama!
Desde o Dia das Bruxas que eu não surjo com nada por aqui. Será alguma maldição? o.O

Deixando essas besteiras de lado, vim falar de um filme que vi no comecinho agora do ano. Tinha ouvido muito falar dele, mas ainda não tinha assistido. Eu não sou muito de alugar filmes e tampouco ir ao cinema, então geralmente fico com um déficit muito grande dos filmes que quero ver e não vejo. E assim passam-se anos e anos até que um dia assisto na casa de alguém, como foi o caso em questão, numa possível ida à locadora ou se passar na tv.

Assisti o filme esperando um bom filme, sem saber nada do que se tratava. Só sabia que tinha uma garotinha e uma kombi por questões de capa, fotos e essas coisas que você vê por aqui e ali.

E vi um bom filme. Ou seja: perfeito!

Antes de falar do filme em si, gostaria de dizer que sempre gostei de grandes filmes. Quando digo grandes filmes, não me refiro a filmes de sucesso ou filmes bons, mas filmes de boas histórias. Para mim, somente grandes histórias deveriam ser levadas pra tela, sejam baseadas na realidade ou pura ficção. De uns tempos pra cá, não sei exatamente quando, mudei totalmente de opinião a esse respeito. Primeiramente por maturidade, por enxergar beleza e qualidade nas coisas mais simples. E depois por ver grandiosas histórias darem em péssimos filmes e historietas darem em belos filmes, livros e outras coisas.

Mas porque eu disse essa baboseira toda sobre a minha percepção de filmes e suas histórias? Porque eu vejo Pequena Miss Sunshine como um desses filmes em que a história de uma família, com situações normais (nem tanto assim, com alguns exageros, é claro), mas que dão uma boa película cinematográfica. Para falar a verdade, ultimamente tenho até preferido filmes com esse olhar, embora os "épicos" não deixem de ser ótimos.

Falando agora um pouco do filme. (SPOILERS) Quando comecei a assistí-lo, senti uma certa dosagem de clichê nos personagens que não me agradou de primeira. A coisa do pai todo certo, com a regrinha dos nove passos, a mãe cansada de tudo que suporta o trabalho e a vida doméstica, o filho esquisitão, o avô doidão e um tio inteligente que tentou se matar por questões amorosas. Olhando assim, parece bem clichêzão e que as coisas vão rodar em torno disso e que não vão prestar muito. Aí que me enganei. E foi bom ter me enganado.
Porque não falei da menininha? Porque ela não pareceu clichê. Pelo contrário. À primeira vista, e com o decorrer do filme só me confirmou, que a garotinha fugiu de todo clichê para crianças. Não é aquela menina esperta que sabe mais que os adultos e dá lições de moral ou coisas do tipo. Olive (o nome da personagem) é uma fiel representação de uma criança normal. Feliz, curiosa, esperançosa. Sem contar que a atriz que a interpretou foi brilhante.
Apesar de Olive ser a personagem principal da trama, eu diria, claro que metafóricamente, que a a família ou até a mesmo a kombi é o personagem principal. Afinal, juntos e nela (na kombi) é que os personagens se mostram. Todos problemáticos e fracassados, vão se apresentando, "duelando-se" e nos fazendo dar umas boas risadas.

O que achei de mais brilhante é que Pequena Miss Sunshine é um filme duplo. Você pode ver como um filme de humor e dar boas risadas. Também como um bom drama com um foco nas questões emocionais presentes. Ou então, aproveitar dos dois e ter um grande filme diante de si!
E sem contar que o filme é cheio de pequenas críticas à sociedade para quem gosta. Mas o legal dele é isso: Há as críticas, mas ele não te "força" a vê-las e entendê-las. Vê quem quer, admira quem quer. Você pode muito bem ficar apenas com um filme "pipocão".

Dica do Genki Dama: Assista! Um ótimo filme! Para rir e/ou refletir. Não espere uma grande história, mas espere um filme bom, que assim verá.
Não sou bom para dar notas, mas diria que Pequena Miss Sunshine levaria umas 4 estrelas na minha opinião.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Meu dia em Macondo...


Hoje não é nenhuma crítica. Até porque eu ainda me julgo incapaz de criticar um livro desses que vem mexendo com minha cabeça a cada dia com um pensamento distinto por dia. Até por essa razão que não coloquei a capa do livro aqui. É apenas uma reflexão pessoal que envolve o livro e meus pensamentos loucos.
O livro em questão é o Cem Anos de Solidão, do Gabriel García Marquez. Li ele semana passada, se não me engano. Na verdade, eu terminei. Porque comecei a ler esse livro se não me engano também em maio ou junho. Mas sempre lia um trecho e parava, lia mais um trecho e parava. Pra se ter idéia, li uns 4 ou 5 livros enquanto "estava lendo" este.
Não que o livro seja complicado ou chato de ler, apenas ele não te cativa muito (pelo menos a mim) nas primeiras páginas. De qualquer forma, foi o livro que mais demorei pra ler. Quase uns cem anos...

Mas não vim falar do livro em si. Hoje o que se passa comigo é uma sensação de ser um Buendía e ela é enorme. Macondo parece esse meu quarto. Não me assustaria se a qualquer momento borboletas amarelas me seguissem ou mesmo escorpiões andassem em meu banheiro.
Por motivos tantos e um em específico e quase único, estou me sentindo um Aureliano de olhos perdidos, no seu mundo próprio de seus próprios medos e angústias.
Minha Remédio, a bela, está tão longe que diazinhos parecem cem anos. Ou será ela minha Amaranta Úrsula de sorrisos, alegria e amor verdadeiro? Talvez uma mistura, com um pouco de Úrsula, Rebeca e até Fernanda, quem sabe...
E eu em que mistura me adequaria? Aureliano com José Arcadio? Ou quem sabe um pouco de Melquíades... Não sei...
Eu só sei que o sobrenome Buendía no dia de hoje cai perfeitamente nesse ser que vos escreve que se sente tão em Macondo como nunca...

E sobre a foto, achei linda e representa bem Macondo e eu nessa minha análise de solidão e perturbação...

Obs.: Ouvindo "Baby" e "O Relógio" dos Mutantes, escrever isso se torna ainda mais solitário, louco e dolorido...

Obs2: O livro é ótimo, recomendo a todos.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Mutantes Progressivo.


Todo mundo conhece Os Mutantes, isso é fato. Todo mundo conhece a Rita Lee, já ouviu falar de Arnaldo Baptista, da época dos festivais da Record e tudo mais. Mas você conhece Os Mutantes após a saída da Rita Lee? Pois é, eu também não conhecia, até achar por essa louca internet uma comunidade do Orkut entitulada "Mutantes Progressivo". Aí eu pirei! Era tudo que eu queria.
Após me tornar um fã louco e viciado em Pink Floyd por influências de um louco chamado Rick que conheci na internet e se tornou um grande amigo, principalmente quando conversamos de música, rock em geral... (blog dele: http://strangeishard.blogspot.com/ ) , eu me tornei admirador do rock progressivo que eu tanto ouvia falar e não sabia de fato o que era. E conheci logo com os mestres do Floyd.
Bem, com isso, eu queria conhecer o progressivo brasileiro e me vem essa comunidade de ouro aos olhos. Nela baixei dois discos dessa fase dos Mutantes, que são os "A e o Z" e "Tudo Feito pelo Sol" e adorei!

Todo mundo conhece os Mutantes geralmente por seu primeiro disco, o lendário "Os Mutantes" de 1968 que sem sombra de dúvida é um disco sensacional. Inovador, ousado, psicodélico e ao mesmo tempo brasileiro. Um disco que reúne tudo que o Brasil tem de bom musicalmente com rock, coisa nova pra época, que logo depois foi usado pelos Novos Baianos, entre outros. A coisa do tropicalismo, de tocar com Gil, Jorge Ben...unir o samba ao rock, a bossa...isso é maravilhoso e riquíssimo no primeiro cd dos loucos irmãos Baptista e a linda ruivinha gostosa.

Mas eu não estou aqui pra falar deste cd. Eu falo do "A e o Z", disco de 1973 que só saiu mesmo em 92, sabe-se lá porque. Muitos loucos dizem que o som era muito louco pra época, talvez fosse mesmo. Mas o que aconteceu, foi que a gravadora não achou aquilo bom pro mercado e não lançou. Pecado!
O disco é o primeiro sem Rita Lee e o primeiro da fase progressiva. O que dizer dele? Foda!
Pra quem curte rock progressivo e psicodelia, é um prato cheio. Músicas longas; letras fantasiosas sobre amor, drogas, contatos, loucura; solos sincronizados de instrumentos; tecladinhos e mais sonzinhos loucos ao fundo; e muito mais.
O álbum não é conceptual nas músicas, mas a conexão entre elas é notória. Não o vejo como álbum do progressivo-ópera como muitas canções do Pink Floyd, por exemplo, mas nem por isso deixa de ser do gênero e deixa de ser bom.

Músicas como ''Hey Joe'', ''Rolling Stone'' são perfeitas viagens progressivas de puro som bem feito e louco.
Mas aquela que me apaixonou, que não me canso de ouvir e que acho uma obra-prima é a música que leva o nome do álbum, "O A e o Z". A música nem é tão longa assim, mas é uma viagem sem volta. Eu me sinto drogado sem usar drogas.
A harmonia dos teclados junto com a voz louca e doce de Arnaldo, te levam numa trip deliciosa. De repente se ouve umas coisas como uns violoncelos ou violinos, aí depois fui descobrir que o disco leva cítara e tudo mais. Uma junção de sons harmoniosa e empolgante. Guitarra e orgão levam a música por minutos e mais minutos num som alucinante.
Eu tô aqui me enrolando, enrolando e não dizendo nada. Mas é que eu gosto pra caramba desse disco, dessa música em especial e no momento estou ouvindo-a para tentar descrever melhor.
Só como título de curiosidade, o disco foi todo gravado com os integrantes sob os efeitos do LSD. Já dá pra saber que a coisa é louca mesmo, né? Hahaha.

Depois desse disco, eles lançaram em 74, e aí foi lançado no ano certinho, o "Tudo foi Feito Pelo Sol". O disco dá uma caída no som. Natural também com a saída do Arnaldo, por abusar das drogas e tudo mais. Da formação original só se manteve o Sergio Dias. Ainda na linha progressiva, o disco é bom. Faixa destaque a "Eu Só Penso em te Ajudar'' que é muito legal e "Cidadão da Terra". O resto das músicas peca um pouco no disco, embora eu goste de ouvir e ache bom.

Logo após, os Mutantes ainda em fase progressiva lançaram mais 2 discos, um Ao vivo e um com o título de Cavaleiros Negros. Não os escutei então prefiro não comentar. Mas, andei lendo que são fracos e não correspondem aos dois primeiros da fase em questão.

Essa postagem foi mais por conhecer uma coisa "nova" que é antiga e eu não sabia nem que existia. Foi aquilo que falei, conhecer Mutantes todo mundo conhece, mas sempre o primeiro cd e aquela coisa de sempre de tropicalismo e tal. Eu nem sabia dessa fase progressiva deles, nunca tinha ouvido falar. Por isso... SALVE A INTERNET!

Genkki Dama recomenda! Baixe os dois discos e os ouça, são ótimos! Não vá pensando que vai encontrar um Pink Floyd, afinal de contas os caras são mestres! Mas espere um som progressivo de muita qualidade tão bom, que eu prefiro do que outros grandes do gênero por aí como Yes. Não que Yes não seja bom, mas O A e o Z é melhor que muito disco do Yes por aí.

É isso, vamos curtir essa trip louca, afinal:


    ''Eu sou o começo
     Sou o Fim
     Sou o A e o Z

     NUMA PESSOA SÓ!''

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Será o fim do Rappa?


Pelo título já devem saber que não são críticas positivas. Então sem muito (mentira!) rodeios, vamos lá.
O Rappa é uma banda que já admiro tem muito tempo. Acho que no ano de 97, o ano da minha primeira revolução musical, que comecei a curtir as músicas dessa grande banda do meu querido Rio de Janeiro. Lembro que as primeiras músicas que ouvi foram do sensacional Rappa Mundi, como: Vapor Barato, Hey Joe, Homem Bomba e outras. Na verdade, esse cd é de todo sensacional. Tu coloca ele pra tocar e não pula ou pensa em pular uma música sequer. Um dos discos mais fodas que conheço.
Depois veio o Lado B, Lado A, outra tijolada de disco. Aí o Rappa enfim explodiu com Me Deixa e A Minha Alma. Levando vários prêmios de videoclipe merecidamente por clipes sensacionais.
Aí aconteceu aquele episódio lamentável com o Yuka e o Rappa deu uma dispersada um pouco depois.
Eis que veio a saída do Yuka e o lançamento do Silêncio Que Precede o Esporro. Como diz o meu amigo Xouts, nome fodaço! Cd mudado. Som diferente, mas muito bom. As letras do Yuka fizeram falta, mas o som não. Não era o mesmo do Rappa de antes da pegada reggae do primeiro álbum e nem a mistura mais rock dos dois seguintes, mas um disco muito bom. Não era um Rappa Mundi, mas era um álbum ótimo.

Estou falando só de albuns de estúdio, porque afinal é de inéditas que vive uma banda.
Mas, depois do Silêncio, veio o MTV Acústico, que pra mim foi o início do declínio do Rappa. Não que seja ruim, mas como idéia de acústico foi um fracasso, Falcão se empolgou demais e a participação da Maria Rita matou a música.
Bem, mas isso acontece.

Ansioso estava eu pro álbum de estúdio a seguir que devia sair 2007 ou 2008 em função do tempo de um cd pro outro que o Rappa costuma dar.
E saiu esse ano, com o título sugestivo de 7 Vezes, que é esse aí da foto.
Ouvi o cd. Achei meio estranho. Ouvi de novo. Achei ruim. Ouvi de novo. Achei bem fraco!

O novo álbum de uma das minhas bandas prediletas foi um fracasso pra mim. Não é péssimo de não conseguir ouvir, mas pro Rappa que conheço, é beeem fraco.
As letras caíram mais ainda e se tornaram canções com repetições constantes. As vezes satura de tanta repetição. As levadas e arranjos também estão repetidos. Muda de música e parece que não mudou. Parece que tentaram deixar cru demais e ficou fraco. Não aquele cru com toque de refinado, mas cru de faltar algo mesmo.
Enquanto de um lado tentaram levar pra essa simplicidade, digamos assim, de outro exageraram numas esticadas na letra que ficaram ruins.

Bem, o disco fica muito a quem do que o Rappa é (ou foi).
Não é um disco péssimo. É fraco. Não gostei, não ouço com freqüência. As vezes ouço de novo pra tentar gostar, mas realmente não deu.
Mas isso acontece com toda banda. Só espero que seja apenas um álbum ruim (eles ainda não tiveram um) e não a queda da banda de vez.

Se é o fim ou não do Rappa, só os próximos discos podem dizer.

De bom o álbum tem uma frase: ''Mas meu cristo é diferente''

Genkki Dama não recomenda. Mas se quiser escutar, escuta. Afinal é o Rappa, sempre vale a pena.
Mas, opte sempre pelos já tão citados aqui Rappa Mundi, Lado B Lado A, O Silêncio que Precede o Esporro e até o primeiro disco O Rappa, que nem comentei direito aqui.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Onde os Fracos Não Têm Vez


Hoje vim falar de um filme. Com o título e a foto, vocês já sabem qual é. Vi essa película deve ter umas duas semanas e até agora não o tiro da cabeça, não positivamente como eu esperava.
Façamos por partes, tal como Jack Estripador.

Não leia se não viu (embora eu ache que tu não deva ver) pode ter aquele trocinho de spoilers que o povo fala.


Primeiramente, eu estava um pouco empolgado para ver este filme, já que levou 4 estatuetas do Oscar e em especial por ter o Javier Bardem, cujo eu tinha gostado muito no filme Mar Adentro.
Bem, até aí você fica com aquela esperança de um "bom" filme no mínimo. Afinal, por mais que o Oscar esteja em decadência, 4 Oscars pra uma porcaria é que não tem. Com Tommy Lee Jones e os tais Irmãos Coen, a coisa não poderia mesmo dar errado. Pois é, mas deu. E como deu!
Baixei esse filme, ainda bem que não aluguei, e parei para assistir. E confesso: Foram um dos piores 12o e tantos minutos olhando pra uma tela da minha vida.

Terminado o filme, e eu puto pra caramba, e ao mesmo tempo perplexo pela crítica toda, de ter visto "isso", fui dar uma olhada no Orkut (lá tem louco pra tudo) e buscar as comunidades do filme para ver o que o pessoal argumentava pra dizer que o filme era bom. E eu só vi bobagem. Pelo menos pra mim. Primeiro começaram dizendo que o filme não é pra qualquer um. Isso eu já fiquei meio assim. Não que eu concorde que não hajam filmes assim, de fato existem e eu até gosto de alguns. Depois vi coisas como ''não há mocinho e nem vilão''. Pera lá, se o personagem do Bardem que fica com cara de cu o filme todo e dá o Oscar de melhor ator coadjuvante pra ele não é um vilão, não sei mais o que é vilão!
A grande moral do que pude entender dos loucos "pensantes" das comunidades é que o filme tenta passar uma história comum como outra qualquer para o cinema (como se isso fosse novidade) e que isso é genial, com o diferencial das histórias reais que os vilões nem sempre morrem e os mocinhos nem sempre se dão bem, e que os fracos (ou velhos, como preferir) não tem vez numa terra como o Texas.

Quanto a isso, tenho algumas observações.
Se a tentativa foi de fazer de uma história comum algo notável no cinema, o sucesso passou longe. Os Irmãos Coen precisam aprender um pouco com o Tarantino, por exemplo. Pulp Fiction que é um filme do qual não gostei muito é exatamente isso. Não gostei, mas reconheço sua importância e qualidade.
Essa de não ter vilão e mocinho, assim como criticar a Bíblia, é que tá virando o clichê. Se não for bem feita, a tentantiva de se romper com o clichê, o torna pior ainda que o "tradicional".

Ouvi muitos comentários de quê o final estragou tudo. Bem, eu discordo. O filme se estraga por completo. Posso citar alguns motivos para isso: uma divisão mal feita de histórias, que não se unem bem e fazem o filme parecer desconexo e muito enfadonho; o personagem do Tommy Lee Jones é jogado na história de uma maneira estranha, parecendo até fazer parte de um flash back ou coisa do tipo (coitado); como já citei, a atuação com cara de cu, de múmia, do Bardem que fez um trabalho excelente em Mar Adentro pelo menos que eu já tenha visto. Entre muitas outras coisas...

Em resumo, achei o filme uma porcaria e nem pra passar no Domingo Maior serve. Filmes do Van Damme são mais divertidos.
Tem outras coisas que li aqui e ali que achei um absurdo como falar que aqueles diálogos são sensacionais e tudo mais, de novo eu recomendo que os Irmãos Coen (ou os fãs desse filme) assistam mais Tarantino. E vi muitas outras bizarrices além que não lembro e/ou não valem ser comentadas aqui.
De bom mesmo, esse filme só tem a fotografia. Porque até a trilha sonora é fraca.
Bem, o elenco em nomes é bom, mas em atuação e rendimento, ficou muito a desejar.

Dica do Genki Dama: Não assistam essa porcaria. A menos que passe na Globo numa segunda chuvosa na Tela Quente e tu não tenha mais nada (mas nada mesmo!) pra fazer. Mesmo assim, ainda é prefirível ver a Luciana Gimenez (e eu não estou exagerando).

É isso.
Um abraço.
O obrigado por ter paciência de ter lido essa porcariada toda.